quinta-feira, 3 de julho de 2008

Fui chamada, há uns dias atrás, para fotografar um parto. Ia ser em casa e na água. Imaginem a minha excitação, ver um bebê chegar ao mundo, do modo in natura, e além disso, eternizar o momento exato em que despertará do lado de cá. Emoção geral.
Pois bem. Conheci o casal naquele mesmo dia. Me surpreendi com tudo: eles eram de uma tranquilidade imensa, eu, longe de estar grávida, estava mais ansiosa do que os dois. Tudo estava lindo e preparado para chegada do bebê, que eles, contrariando todas as modernidades, não sabiam o sexo. A casa cheirava a um incenso bom, uma música suave tocava e a futura mamãe, de uma beleza pura, se preparava para o momento.
Aprendi muito naquela noite. Mais do que eles possam imaginar. Aprendi que algumas dores são necessárias, há que se passar por elas. Aprendi que amor bom é amor compartilhado, doado e dividido. Aprendi que não podemos controlar o fluxo da vida, algo do tipo não sou eu quem me navega, quem me navega é o mar. A vida é líquida! O tempo é mesmo uma criação do homem: a natureza segue um outro fluxo, muito mais sutil e tão mais bonito!
Acabou que pelos revezes da vida, o parto não pôde ser na água. Mas a criança nasceu. Linda, uma menina, que ganhou o nome mais lindo, inspirado, vejam só pelo Guimarães Rosa: Cora. A menina coração.
Linda, vermelha e viva, pronta para pulsar no mundo.


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