terça-feira, 20 de novembro de 2007

. Uber Glam .

Dias desses fui participar, junto com mais um tanto de pessoas, da gravação do clipe do Coletivo Uber Glam, coletivo astral de rock indie e de severos flertes com o electro e suas vertentes, num apê devidamente decorado e preparado para uma festinha de mentira.

Na preparação, bebidas indo e vindo, lá pelas tantas, quando começaram a gravar, já estava aquele clima de auê, simulações de pegações, laranja mecânica e gente causando na piscina de bolinha instalada no quarto da luz vermelha. Eu, por conta do vestido que se favorecia da luz negra, acabei indo parar na cozinha, o que aumentou o meu nível alcóolico e minha futura exigência de ficar em outro cômodo em próximas empreitadas.

Acabei conhecendo um monte de gente legal, me divertí horrores e estou no aguardo do resultado, até porque, saímos arrasados do apê (vale lembrar,que os vizinhos,definitivamente, não curtem electro, rock e outras modalidades de ferveção) já combinando a festinha verdadeira de comemoração do clipe.

Ih!

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Acessem: www.myspace.com/cugcug

sábado, 17 de novembro de 2007

. os fantasmas de minha avó .


É interessante quando conseguimos reconhecer o nosso medo, reconhecer esse monstro de asas que se esparrama dentro de nós e coloca o coração é um lugar não-comum, saltando à boca.

Sentada na sala, junto a minha vó, me debrucei sobre pilhas de fotografias antigas, de um preto e branco resistente às folhas do tempo e de histórias que, para minha avó, acabaram de bater a porta e foram para a rua. Me dei conta de um certo caráter fantasmagórico que a fotografia encerra: as pessoas mudam, envelhecem, morrem, e ao mesmo tempo continuam ali, jovens, iguais e vivas, nas fotografias antigas que minha vó guarda em muitas caixas. E ela ia me contando: esse daqui era irmão do seu avô, essa daqui era minha amiga de escola, aquele lá está doente, ah, essa daqui fez 80 anos mês passado! Essa sou eu, com 13 anos, quando a Manoel Dias era toda uma praia. Ó, essa minha amiga morreu aos 26 anos, tão novinha... E vou sendo consumida por um misto de alegria e medo, muito medo. Fico pensando, um dia serei eu a olhar as minhas fotos antigas e a chorar pelos que já se foram, a rir das festas de carnaval, a folhear a minha junventude com mãos rugosas, vividas pelos anos que não voltam mais. Senti medo desse poder da fotografia, de nos levar a cheiros que não podemos mais sentir, a sorrisos que não podemos mais dar, a pessoas que não podemos mais tocar.

E enquanto minha vó ia me contado os fragmentos retratados da sua vida, eu ia sendo tomada por uma melancolia absurda, mas não conseguia parar de olhar as fotos, estava presa àquelas estórias, àquelas dedicatórias no fundo das fotos, e como não pude deixar de olhar, me calei e acompanhei a mãe da minha mãe no redescobrimento dos seu fantasmas ainda tão vivos.

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Foto: a mãe da minha mãe. (por Mariana David).

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

. des pedaços .



Diogo decide partir.

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Foto: o menino dos Reis (por Mariana David).

. conversas .



Ian e o cão.

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Foto: mudos (por Mariana David).

. estado de saudade .


. e fico assim sem você, verão meu .

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Foto: acostumado com o teu embolado. (por Mariana David).

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

. rios, pontes e overdrives .


A primeira vez que pisei no Recife foi há um ano atrás, dias antes do início do Carnaval e tendo apenas como referência as músicas do Chico Science sobre a cidade que, só depois de estar lá, fui entender porque ele a chamou de manguetown.
Fui recebida no aeroporto por um grupo de pessoas dançando ao som do frevo, e uma figura chamativa, com uma espécie de peruca colorida e óculos escuros (o caboclo de lança, dos tradicionais maracatus rurais). Tinha chegado, finalmente, a Pernambuco.

Bati muita perna pelas ruas do Recife. Dei sorte, pois me instalei num apê muito legal, bem no centro e pertinho das melhores coisas a serem vistas. Este apê pertencia a três amigos, que conheci em Salvador mesmo, e prontamente me receberam de braços abertos ( amigo queridos, amigos amados).
Não há nada melhor do que caminhar por uma cidade que não se conhece: cada esquina é uma surpresa, cada cantinho revela um novo olhar, um novo sabor, o sotaque é algo genial (adoro sotaques, todos eles, sem exceção) e o cheiro, ah o cheiro. O cheiro do Recife é bem característico: mangue, cheiro de lama! Existem inúmeras pontes no Recife, e elas passam bem acima do rio Capibaribe, que apesar de ter sido praticamente destruído pela urbanização desenfreada, conserva ainda um restinho de mangue, em pleno centro da cidade. O centro do Recife é parecido com o de Salvador, mas ao mesmo tempo, bem diferente. Enquanto que minha cidade corre por becos, ruas estreitas, as de lá são maiores, mais amplas. O centrão é como uma mistura do Comércio com a Avenida Sete: prédios imensos e um monte de gente nas ruas, fazendo de tudo. A confusão sonora impera, ouve-se de Chico ao brega (ritimo forte na terra), podendo-se, inclusive, se escutar um axé em algum carrinho de som que vende cds piratas ( o axé chegou lá com força, mas é proibido no Carnaval).

O carnaval do Recife é uma coisa maravilhosa: eu, que há anos boicotava o carnaval baiano e me refugiava em ares mais mansos, redescobri a delícia do que é a verdadeira festa de rua. Lá, o carnaval ocorre por toda a cidade, desde o Recife Antigo, até a periferia, onde, inclusive, alguns dos grandes nomes da música brasileira e pernambucana, tocam pro povo e sem frescura. Genial. Não ví nenhuma briga, ou confusão, apesar das ruas lotadas de gente, homens, mulheres, crianças, bichas loucas, modernetes, senhoras de idade, todos juntos, dançando frevo, arriscando no maracatu, fantasiando-se, num mundo cada vez mais sem fantasia. Vale mencionar que é tudo de graça minha gente, sem cordas, sem camarotes elitistas esmagando o povo e a tradição de se brincar na rua. É só chegar e se jogar.
Descobrí muita música boa no Recife, além de Nação Zumbi ( que são muito queridos e respeitados pelos pernambucanos), Mundo Livre S/A e Otto: Siba e Fuloresta do Samba, Mestre Salustiano, Maciel Salu, Lia de Itamaracá, Coco de Arcoverde, muita coisa de raiz, som fino e de qualidade. Recife é coisa boa de se ouvir.
Há ainda a parte mais tradicional do carnaval, que ocorre na Zona da Mata, com as folias dos Maracatus Rurais, Caboclinhos, Cavalo Marinho, tanta coisa, dança, música, respresentação, cultura popular resistindo e se recriando aos ditames do tempo. Ano que vem, meu destino é certo: vou desbravar a nobreza que vem da mata.

O Recife é meu segundo lar, onde fiz amigos verdadeiros, onde me reconheci, onde me apaixonei.

Eu também estou enfiada na lama.

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Foto:andando em coletivos e becos (por Mariana David).