Lembro-me de já ter tido muito medo das pessoas. Uma vergonha muito forte de olhar nos olhos e talvez perceber que eu não sou aceita. Ou ficar com aquele quê de incertezas que um olhar pode trazer a você.
Lembro-me que, um dia, eu tive a idéia de só fotografar olhos de mulheres para uma exposição. Tive muita vergonha de pedir a elas numa festa em que muitos olhos bonitos circulavam. Mas, recebi um conselho - talvez você não encontre outros - e fui com a câmera, escondendo os meus olhos que viam tudo. Foi mais simples do que eu pensava.
A fotografia me ajudou muito a superar os medos criados na minha cabeça. Até mesmo assumir a fotografia como meu caminho, como minha profissão. Dei muitas voltas até chegar a ela. Chorei muito em noites de angústias que pareciam não terminar, até finalmente descobrir que eu só seria feliz quando eu pudesse olhar as pessoas nos olhos, mesmo que para isso fosse necessária uma câmera na frente dos meus.
A fotografia trouxe o que há de melhor em mim. Não há mais medo por aqui.
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Um comentário:
"Só os olhos ainda são capazes de soltar um grito." René Char
ou
"abaixando os olhos, eu tiro a quem me olha um pouco da possibilidade de me descobrir." Georg Simmel.
ou
"O outro é, por princípio, quem me olha." Jean-Paul Sartre
Lembrei disso que está no Opus Corpus. Belo texto, já passei pelas mesmas angústias e acho que ainda passo um pouco, não preciso negar. Volta e meia sentimos receio dos olhos. Essa janela da alma.
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