quinta-feira, 25 de outubro de 2007
. a alegria é muda .
Palavra bonita é o silêncio. Bonita e cheirosa.
Adoro os instantes de silêncio, os momentos em que tudo se cala e a oportunidade de expressões mais sutis, que escorregam pelas beiradas, se faz naturalmente querida.
Muitos acham esses hiatos de aparentes vazios carregados de constrangimento, e muitas vezes os são: somos todos escravos das palavras. No entanto, eu me esforço para não achar estranho quando tudo se cala, quando as palavras simplesmente dilúem-se em algum canto nosso. Aproveito a oportunidade, não é sempre que acontece. Vivemos em mundo barulhento onde o silêncio, a calma que adormece nos lábios, é sinônimo de tristeza (ou o que é que você tem, está tão calada!). O mais interessante é que, muitas vezes, é justamente este calar que nos traz alegria, nos coloca em estado de compreensão e, por que não, de admiração diante do mundo. E vejo mais, e sinto mais e escuto mais. Os sentidos ganham uma dimensão genial, às vezes chego até a me emocionar com a beleza que nos é oferecida em silêncio.
Já me perguntei por que temos dois olhos, dois ouvidos e uma boca: ouvir mais, ver mais e falar o necessário. Vejo tanta gente gastando palavra a tôa e percebo que ainda não conseguiram ver o que está bem estampado na cara.
Se estar em silêncio é estar triste, aceito a condição.
Minha felicidade não se encontra no dicionário.
*
Foto: Capricórnio(por Mariana David).
terça-feira, 23 de outubro de 2007
Tenho muitas dúvidas nesta minha vida, tantas, tantas, que às vezes sinto uma vontade imensa de tirar férias de mim mesma e ir para praia, não pensar em nada. Mas acho que isso, do pensar, refletir, característica genuinamente humana, é a nossa fonte de alegria e sim, também, de muito, muito dissabor.
Estarmos conscientes tem seu preço. A clarividência há muito é motivo de angústia para os seres humanos: pensar, esclarecer, elaborar, seja no campo da ciência, seja no seio da arte, fez e faz muita gente passar as noites em claro, procurando respostas para coisas, sentimentos, fenômenos que residem num mundo ainda não descoberto, ainda não partilhado.
Foi assim com o filósofo do mito platônico da caverna, que sai do mundo das trevas e alcança o real sentido das coisas, mas que tem que retornar para permitir que os outros, ainda em estado ignorante, também tenham acesso à maravilhosa e angustiante sensação que é o saber. Foi assim com o poeta, que à parte de tudo, traz consigo todos os sentimentos do mundo. Que fardo maravilhoso é o de trazer todos os sentimentos do mundo. Amor não é pouco. Cada um vai utilizando as suas armas para tentar compreender e explicar o mundo que nos cerca: uns pintam, uns fotografam, outros escrevem, há aqueles que falam, os que calam, muitos que choram e um tanto de outros que não estão nem um pouco preocupados com isso.
Não cheguei ainda a uma conclusão a respeito disso. É de causar um grande temor, também, ser privado de explicações sobre as coisas, que querendo ou não, nos fornece os mecanismos de intervenção no mundo. Pode-se fazer melhor, ou pior, conhecimento é artifício neutro: há os que fazem bom uso e os que não fazem. A bondade e a maldade no mundo andam lado a lado com a nossa capacidade de pensar, e tem certas coisas que, sinceramente, eu preferia nem saber.
Para algumas coisas eu gostaria de ser burra, não sofreria tanto.
*
Foto: Niemeyer (por Mariana David).
segunda-feira, 15 de outubro de 2007
quem bater primeiro a dobra do mar dá de lá bandeira qualquer, aponta pra fé e rema
é, pode ser que a maré não vire
pode ser do vento vir contra o cais
e se já não sinto os teus sinais
pode ser da vida acostumar
será morena?
sobre estar só eu sei
nos mares por onde andei
devagar
dedicou-se mais o acaso a se esconder
e agora o amanhã cadê?
doce o mar perdeu no meu cantar
* sem saco para escrever. música, então *
*
Foto: BahiaRio (por Mariana David).
Lugar sem comportamento é o coração.
Ando em vias de ser compartilhado.
Ajeito as nuvens no olho.
A luz daz horas me desproporciona.
Sou qualquer coisa judiada de ventos.
Meu fanal é um poente com andorinhas.
Desenvolvo meu ser até encostar na pedra.
Repousa uma garoa sobre a noite.
Aceito no meu fado o escurecer.
No fim da treva uma coruja entrava.
[ Manoel de Barros _ O livro das ignorãças ]
*
Foto: Auto meu (por Mariana David).
sexta-feira, 12 de outubro de 2007
sábado, 6 de outubro de 2007
. MabLee foi passear .
Apesar de conhecer muita gente, eu não sou uma pessoa de fáceis amizades. Sinto muita dificuldade em deixar uma pessoa entrar na minha vida, não porque acho que a pessoa não valhe a pena, mas porque sou muito tímida mesmo. Tenho a impressão de ter um bicho do mato dentro de mim, que me esconde atrás das árvores, dentro das tocas, debaixo da terra. Sou muito mais observadora do que protagonista, é bem verdade. Me comporto muitas vezes como uma mosquinha na parede, que tudo vê e não é vista (o cine olho de Vertov, cinema cru e direto). Mas, por mais que a timidez me esconda, inexplicavelmente, algumas pessoas conseguem chegar até a mim e mais, permanecem na minha vida maravilhosamente. Dou muito valor a estas pessoas, porque elas acreditam em mim e insistem em me terem por perto, por mais que o meu bicho do mato insista para eu me sentar na última fila.
Uma dessas pessoas chama-se Mab. Dona de nome de fada, essa linda menininha me pegou de surpresa e se instalou verdadeiramente no meu coração. Não houve esforço na nossa amizade, foi um encontro que fluiu desde o princípio e mostrou que veio para ficar.
Mab traz uma leveza para minha vida, traz cor, traz luz. Ela é pura inspiração, sentimento que dança e que me faz um bem danado! Minha paixão por fotografia cresceu junto com a minha paixão por ela, e coisa mais bonita do mundo é ver os seus olhos cor de esperança revelados pelo meu olhar.
Lhe desejo, meu bem, tudo de melhor no mundo, um boom de coisas novas, cores diferentes, sabores especiais, alegrias de nariz e movimento!
Levo você sempre comigo, meu pedaçinho de alegria!!!
* Amor sempre! *
*
Foto: A Rainha das Fadas (por Mariana David).
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