
Palavra bonita é o silêncio. Bonita e cheirosa.
Adoro os instantes de silêncio, os momentos em que tudo se cala e a oportunidade de expressões mais sutis, que escorregam pelas beiradas, se faz naturalmente querida.
Muitos acham esses hiatos de aparentes vazios carregados de constrangimento, e muitas vezes os são: somos todos escravos das palavras. No entanto, eu me esforço para não achar estranho quando tudo se cala, quando as palavras simplesmente dilúem-se em algum canto nosso. Aproveito a oportunidade, não é sempre que acontece. Vivemos em mundo barulhento onde o silêncio, a calma que adormece nos lábios, é sinônimo de tristeza (ou o que é que você tem, está tão calada!). O mais interessante é que, muitas vezes, é justamente este calar que nos traz alegria, nos coloca em estado de compreensão e, por que não, de admiração diante do mundo. E vejo mais, e sinto mais e escuto mais. Os sentidos ganham uma dimensão genial, às vezes chego até a me emocionar com a beleza que nos é oferecida em silêncio.
Já me perguntei por que temos dois olhos, dois ouvidos e uma boca: ouvir mais, ver mais e falar o necessário. Vejo tanta gente gastando palavra a tôa e percebo que ainda não conseguiram ver o que está bem estampado na cara.
Se estar em silêncio é estar triste, aceito a condição.
Minha felicidade não se encontra no dicionário.
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Foto: Capricórnio(por Mariana David).