quarta-feira, 11 de junho de 2008

. Irina .

O táxi percorreu as úmidas ruas daquela noite num ritimo lento. As janelas embaçadas turvavam as luzes das vitrines que luziam sobre os corpos das damas da noite. No rádio tocava um samba antigo, do tipo que não se faz mais. É neste cenário que Irina está. É neste cenário que Irina chora.

Pára, diz ela ao taxista. É aqui que vou ficar. O lugar é uma das muitas ruelas do centro da cidade, cheirando a mijo e a restos de animais,indiferente, ela acende o último cigarro que encontra no fundo do seu casaco herdado. Sobe as escadas com dificuldade. Quase três da manhã e ela chega ao seu apartamento, dono de um amarelo melancólico. Não quis mudar a cor. Gosta de amarelos melancólicos.Tirou as botas pesadas e se jogou no sofá, velho, sujo, mas vermelho, presente de um amigo que saiu pelo mundo e nunca mais voltou. Por isso o sofá ainda está lá, no canto do apartamento, carregado de marcas, cheiros, suores que nunca irão sair. Ela sabe e gosta disso.

Nem sempre foi assim. Gostava de lençóis brancos cheirando a lavanda. Gostava de verde, raramente optava pelo amarelo. Era a cor de que ele mais gostava, o verde.
Vestia verde na noite em que tudo aconteceu. Lhe deu uma flor e lhe disse: vou.
E foi embora, deixando lençóis brancos, lavandas e todos os outros verdes que ele lhe ensinara a amar. Irina percorreu todas as ruas, seguiu todos os cheiros, ouviu os murmúrios de todas as cores. Nunca conseguiu encontrá-lo. Como não podia mais voltar, saiu pelas ruas. Aderiu a uma vida errante. Esqueceu de todos os cheiros que lhe traziam de volta a ele. Encontrou um apartamento abandonado e decidiu ficar. Quis estar com algo que também foi deixado, com as lembranças que o lugar trazia nas cortinas empoeiradas, nas janelas quebradas e no insistente amarelo melancólico que a parede afirmava todos os dias.
Apesar de tudo, Irina fez da noite de um outro a mais feliz. Andrei. Ela não sabe disso. Mas eu sei, ele sabe e você também sabe.

Eles irão se encontrar novamente. E desta vez, fará um lindo sol de domingo.

*

Um comentário:

João disse...

Será que irina nunca havia visto andrei? Foi instinto mesmo?
Será que andrei significou algo para ela? Ele tem um pau especial ou a ato de transar com ela (estranha) no meio da rua deixou irina enfeitiçada?
Quero saber o fim dessa história. Terá fim?