terça-feira, 23 de outubro de 2007


Tenho muitas dúvidas nesta minha vida, tantas, tantas, que às vezes sinto uma vontade imensa de tirar férias de mim mesma e ir para praia, não pensar em nada. Mas acho que isso, do pensar, refletir, característica genuinamente humana, é a nossa fonte de alegria e sim, também, de muito, muito dissabor.

Estarmos conscientes tem seu preço. A clarividência há muito é motivo de angústia para os seres humanos: pensar, esclarecer, elaborar, seja no campo da ciência, seja no seio da arte, fez e faz muita gente passar as noites em claro, procurando respostas para coisas, sentimentos, fenômenos que residem num mundo ainda não descoberto, ainda não partilhado.

Foi assim com o filósofo do mito platônico da caverna, que sai do mundo das trevas e alcança o real sentido das coisas, mas que tem que retornar para permitir que os outros, ainda em estado ignorante, também tenham acesso à maravilhosa e angustiante sensação que é o saber. Foi assim com o poeta, que à parte de tudo, traz consigo todos os sentimentos do mundo. Que fardo maravilhoso é o de trazer todos os sentimentos do mundo. Amor não é pouco. Cada um vai utilizando as suas armas para tentar compreender e explicar o mundo que nos cerca: uns pintam, uns fotografam, outros escrevem, há aqueles que falam, os que calam, muitos que choram e um tanto de outros que não estão nem um pouco preocupados com isso.

Não cheguei ainda a uma conclusão a respeito disso. É de causar um grande temor, também, ser privado de explicações sobre as coisas, que querendo ou não, nos fornece os mecanismos de intervenção no mundo. Pode-se fazer melhor, ou pior, conhecimento é artifício neutro: há os que fazem bom uso e os que não fazem. A bondade e a maldade no mundo andam lado a lado com a nossa capacidade de pensar, e tem certas coisas que, sinceramente, eu preferia nem saber.

Para algumas coisas eu gostaria de ser burra, não sofreria tanto.

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Foto: Niemeyer (por Mariana David).

Um comentário:

*** disse...
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