Sentado na areia da praia, Tomáz observava o ir e vir das ondas. Gostava de ir à praia, quando os momentos felizes decidiam deixar-lhe a sós. A praia estava quase deserta: ao longo do mar, um barco fazia sua travessia e, bem distante, caminhava uma moça, cambaleando com uma garrafa de vodka quase vazia, exaurida na noite que ela insistia em não abandonar.
Pensou que tudo isso era inútil, a travessia do barco, que sempre tinha que voltar, e a bebedeira da moça, que não era tão moça assim, que definitivamente iria acabar no banheiro vagabundo mais próximo onde suas pernas poderiam chegar. Preso aos seus sentimentos cinzas, Tomáz nem reparou que a moça entorpecida tinha sentado ao seu lado, roupa preta amassada, maquiagem borrada, hálito que certamente já havia percorrido muitos copos de bebida, quase não se via que havia ali uma mulher. Tomáz pensou em sair dalí, em deixar aquela criatura sozinha, exalando os seus podres poderes, mas estava muito cansado para qualquer coisa e só lhe restou ficar.
A mulher cantarolava um samba antigo, impossível de se decifrar ( Cartola ou Noel? Pensou o rapaz) e se jogava na areia, gargalhando muito alto, de forma que Tomáz não pôde deixar de notar qualquer outra coisa que não ela. No entanto, a mulher de lábios borrados não olhava para ele: continuava a cantar, a rir bem alto e a gritar: Tomáz era simplesmente invisível para ela.
Aquela indiferença começou a incomodar Tomáz, que começou a se sentir pequeno, miudamente pequeno, absurdamente pequeno. Ele gritava, mas ela não ouvia, tudo era agora uma estrita treva, plena de escuridão. Já sem forças, prestes a ser consumido pelas próprias entranhas, tal qual um inseto que se alimenta dos restos de outro, a moça parou em sua frente e lhe entregou um bilhete. Ele fez um enorme esforço, sua pequenez agora já era enorme, mas suas vistas alcançaram o papel, que trazia em letras vermelhas: ACREDITE.
Em quê, meu Deus, em quê?!! Tomáz ia gritando, berrando, mas a moça não mais lhe escutava, já estava bem longe, quase impercepitível. E ele ia diminuindo, diminuindo, sem saber no que acreditar, até que simplesmente se acabou. Era agora tudo cor de areia, e o insistente barulho do mar, de que ele tanto gostava.
E bem ao fundo, lá de longe, podia-se ouvir a moça bêbada cantar um samba de Cartola, enquanto Tomáz se desfazia, se dissolvia, por não saber acreditar.
*
--» Não postarei mais fotos aqui. Só textos.
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Um comentário:
Gostei. Passarei mais por aqui.
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