sábado, 25 de agosto de 2007

. a idade do tempo .



Acabo de assitir ao último documentário feito por Eduardo Coutinho, chamado O Fim e o Princípio. Coutinho leva a sua câmera e olhar cuidadoso a um pequeno povoado, Araçás Azuis, nos confins da Paraíba e colhe depoimentos dos moradores mais antigos da região.
O filme corre num ritimo lento, mas creio que essa tenha sido a intenção do Coutinho. Mostrar um lugar onde o tempo prescinde dos ponteiros do relógio, um lugar onde a temporalidade está vinculada às oscilações da natureza ( chuva e sol, poeira e carvão). É um lugar distante, quase esquecido, mas onde a memória reconstrói as dores, os sonhos e as vivências de pessoas. É ela o fio condutor das narrativas, o cheiro do passado ultrapassa a película e chega até a mim, e o que muito me impressiona é a simplicidade grandiosa das pessoas capturadas pela câmera. Quem fala tudo que sabe, fica besta, teoriza um senhor de idade, de fala embolada, mas de uma clareza que talvez nem ele mesmo saiba. Num lugar marcado pela fé cega num Deus que tudo vê, escuta e decide, trabalhar na roça é visto com algo que muita saudade deixou e a morte como um fim que necessariamente chega. A maioria ali, não teme a sua chegada.
O filme me trouxe uma sensação de rugas cansadas, de vozes rasteiras, e de como o ser humano existe em inúmeras possibilidades. Há uma procura pelo que não se tem, pelo que não se é, a câmera mostra uma quase referência mítica aos personagens que procura absorver. Gostei muito da falta de pretensão, de se escolher um lugar qualquer e deixar com que as pessoas derramem as suas estórias, os seus fragmentos, com cheiro de terra batida e sol quente.
Fiquei numa nostalgia interessante, por algo que não vivi, por algo que não presenciei, mas que me trouxe mais uma nova revolução do olhar. Gostei.

Foto: As mãos da minha Vó. (Por Mariana David)

*

Nenhum comentário: