terça-feira, 28 de agosto de 2007

. a namorada do céu .



Cheguei à conclusão de que se é preciso imaginar para se poder viver de forma mais feliz no mundo. Que seríamos de nós, tão limitados no que se chama de corpo humano, se não pudéssemos criar novas formas de se enxergar a realidade, transformar as palavras, brincar com o que está pronto e acabado.

Fui, certa vez, á praia. Dia quente, ensolarado, muito banho de mar e crianças, tão magníficas, confundidas com os peixes na água. Não pude deixar de notar um menininho, de cuequinha branca, acompanhado pela irmã, que igualmente, vestia um maiô gasto pelo tempo. A menina, mais velha, ficou encantada com a minha câmera e se soltou a fazer poses e a gargalhar, depois de conferir a sua imagem congelada pela tecnologia que ela desconhecia. O garoto, alheio às modernidades e aos olhos curiosos, carregava uma pipa, que de tão rasgada, denunciava a experiência de muitos céus percorridos. Me parecia impossível se fazer voar aquela pipa, mas o menininho nem me deu bola: levantava para cima e para baixo, os bracinhos se esforçando e fazia a pipa voar. Ela subia e caía, e ele se encolhia todo, rolando de rir pela areia. Seus olhos brilhavam, me lembro muito bem, e me sentí uma tola por duvidar da capacidade do ser humano de expandir as limitações. Enxergar o mundo com os olhos do coração.Foi nesse dia que me dei conta de que a imaginação é a nossa ferramenta mais bonita para nos alegrar e trazer alegria aos dias cinzentos do mundo.

E eu ví muito bem, com esses olhos que teimam em enxergar mal, a pipa novamente tocar o azul do céu.

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Foto: A namorada do céu (por Mariana David).

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